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Pressão arterial e prática esportiva

by Brazil Expat
Pressão arterial e a prática esportiva

Antes de abordar o tema desta matéria, precisamos esmiuçar o significado de pressão arterial, que na literatura se resume em força exercida pelo sangue contra a parede de artérias, força esta necessária para que o sangue possa circular por todo o corpo. Podemos apresentá-la pela fórmula Pressão Arterial (PA) = Débito Cardíaco x Resistência Periférica.

O controle desta pressão arterial está diretamente ligado a fatores como:

  • Mecanismos neurogênicos,
  • Sistema renina-angiotensina,
  • Peptídios vasoativos e endotélio.

Enfim, ele é muito mais complexo do que se possa imaginar.

Quando os parâmetros de referência ficam acima de suas margens normais, a pessoa apresenta um quadro de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), que é uma doença crônico-degenerativa de natureza multifatorial, na grande maioria dos casos, assintomática, que compromete fundamentalmente o equilíbrio dos sistemas vasodilatadores e vasoconstritores que mantém o tônus vasomotor, levando a uma redução da luz dos vasos e danos aos órgãos por eles irrigados.

A HAS pode ser de causa ambiental (obesidade, sal, sedentarismo e estresse), ou de causa genética (alterações monogênicas ou poligênicas). A regulação da pressão arterial ocorre por mecanismos de curto e longo prazo. Em curto prazo, temos os mecanismos neurais (pressorreceptores, quimiorreceptores e cardiopulmonares), mecanismos hormonais (adrenalina, noradrenalina, SRA-aldosterona, ADH, vasodilatadores ANP, endotélio vasodilatadores (NO) e vasoconstritores (endotelina). Na resposta a longo prazo, temos os mecanismos renais (excreção de volume).

HAS e exercícios físicos

Até bem pouco tempo atrás, o Treinamento Resistido (musculação) era contra indicado para pessoas com quadro de hipertensão, tendo como base que o exercício, além de poder produzir elevações pressóricas perigosas, também poderia agravar a remodelação adversa do miocárdio produzida pela doença, e não seria eficiente na redução da pressão de repouso nestes pacientes, o que não está de todo errado, mas respondo um pouco mais adiante.

Estudos têm demonstrado que no treinamento resistido ocorre hipertrofia cardíaca, mas sem redução dos volumes das câmaras, sem aumento de necrose e fibrose, e sem evolução para insuficiência cardíaca. Um dos detalhes para esta linha de prescrição é que no treinamento resistido, a redução da pressão arterial de repouso induzida pelo exercício em pessoas hipertensas é menos acentuada quando comparada a exercícios aeróbicos.

Nas atividades aeróbicas, ocorre um melhor controle devido a atuação do comando central mecanorreceptores, onde temos a redução da resposta do sistema nervoso parassimpático (SNP), aumento do sistema nervoso simpático (SNS), nos metabólicos locais de vasodilatação, o aumento do volume sistólico (VS), frequência cardíaca (FC) e débito cardíaco (DC), favorecendo a redução da pressão arterial diastólica (PAD) e aumento da pressão arterial sistólica (PAS), deixando a atividade em baixo risco de hipertensão pós exercício.

Por outro lado, a prescrição de treinamento para o exercício físico resistido tem que ser feita com grande atenção em pessoas com HAS, e respeitando o trabalho de cargas entre 40 a 65% de 1RM (uma repetição máxima), diferentemente da carga utilizada para não portadores de HAS, onde podemos iniciar com 85% de 1RM. A resposta para este critério de atenção está que em cargas acima de 85% temos maior acúmulo de metabólicos quimiorreceptores, que inversamente ao que ocorre na atividade aeróbica, temos a elevação do sistema nervoso simpático, redução do sistema nervoso parassimpático, aumento significativo da frequência cardíaca, aumento de débito cardíaco, pressão arterial diastólica e pressão arterial sistólica.

Resumindo, para pessoas com HAS, quando o trabalho for com cargas elevadas, existe o alto risco de pico pressórico (aumento abrupto de pressão arterial sistólica e diastólica) podendo ocorrer o comprometimento de vasos importantes, levando a um rompimento de aneurisma preexistente, ou a um acidente vascular encefálico (AVE). Quando respeitado o trabalho com cargas leves, a pressão arterial sistólica e diastólica não sofre elevação significativa, deixando a atividade em baixo risco.

Como reduzir o risco?

  • Medir a PA antes do exercício físico;
  • NUNCA deixar de fazer uso da medicação sem o conhecimento médico;
  • Não iniciar a sessão se a PA maior que 160 x 105 mmHg;
  • Reduzir a intensidade de treino;
  • Reduzir a massa muscular;
  • Evitar manobra de valsalva (bloqueio da respiração durante o exercício);
  • Evitar fadiga concêntrica;
  • Programar um período maior de pausa entre séries.

Mas afinal, o efeito de hipotensão do treinamento físico tem relevância clínica?

Estudos mostram que queda de pressão arterial sistólica de 2 mmHg pode reduzir a mortalidade por AVE em 10%, e por infarto do miocárdio em 7% entre pessoas de meia idade.

  • A prática de atividade física diária reduz 3,6 (PAS) e de 5,4 mmHg (PAD).
  • Exercício aeróbico em pré-hipertensos redução de 2,1 (PAS) e de 1,7 mmHg (PAD).
  • Exercícios aeróbicos em hipertensos redução de 8,3 (PAS) e de 5,2 mmHg (PAD).
  • Exercício resistido dinâmico em pré-hipertensos redução de 4,0 (PAS) e de 3,8 mmHg (PAD).
  • Exercício resistido dinâmico em hipertensos, NÃO REDUZ.

O American College of Sports Medicine (ACSM)

O exercício continua a ser uma terapia fundamental para a prevenção primária, tratamento e controle da hipertensão. A frequência, intensidade, tempo e tipos de treinamentos ideais precisam ser melhor definidos para otimizar as capacidades de exercício de redução da PA, particularmente em crianças, mulheres, idosos e certos grupos étnicos. O treinamento, desde que prescrito de forma correta, causará um efeito agudo com a hipotensão pós exercício.

Recomendação para todos os hipertensos

No mínimo 30 minutos/dia de atividade física MODERADA, de forma contínua (1 x 30 min) ou acumulada (2 x 15 min ou 3 de 10 min) de 5 a 7 dias da semana.

Treinamento aeróbico:

  • Andar, correr, dançar, nadar, entre outras atividades simples.
  • Pelo menos 3 x semana (ideal 5 x semana);
  • Pelo menos 30 minutos dia (ideal entre 40 e 50 min).

Intensidade MODERADA definida por:

  • Conseguindo conversar (sem ficar ofegante);
  • Sentir-se entre ligeiramente cansado e cansado.

Manter frequência cardíaca (FC) de treino na faixa calculada por: FC treino = (FC máxima – FC repouso) x % de treinamento + FC repouso.

Treinamento resistido (musculação):

  • De 2 a 3 x semana;
  • 8 a 10 exercícios para os principais grupos musculares;
  • Dar prioridade para execução unilateral (quando possível);
  • De 1 a 3 séries com cargas entre 40 e 65% de 1RM;
  • De 10 a 15 repetições até a fadiga moderada (redução da velocidade de movimento e tendência a apneia);
  • Pausas longas passivas entre 90 a 120 segundos.

Dicas para o controle e prevenção da hipertensão (HAS):

  • Hábitos saudáveis são responsáveis para prevenção e controle da doença;
  • Exercite-se sempre que possível e com supervisão e prescrição de um profissional registrado;
  • Reduza o consumo de sal;
  • Evite fast food e alimentos enlatados;
  • Atenção com a gordura na cintura;
  • Reduza ou evite consumo de bebidas alcoólicas;
  • Não fume;
  • Elimine o estresse;
  • Mantenha os níveis de vitamina D em ordem;
  • Procure acompanhamento médico;
  • Beba água com grande frequência.

“A atividade física deve e pode integrar o dia a dia de quem tem pressão alta”.

Quer conhecer mais sobre o trabalho do professor Beto Fusaro? Visite: @personal_betofusaro

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