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Família Schurmann: A volta ao mundo para responder ao chamado dos Oceanos

by Brazil Expat
Família Schurmann

Uma entrevista com a família Schurmann

Saiba tudo sobre a expedição mundial “Voz dos Oceanos, em busca de soluções inovadoras para combater a poluição dos mares”.

Familia Schurmann

Em abril de 1984, pai, mãe e três filhos partiram num veleiro para dar uma volta ao mundo. Essa viagem deveria durar três anos. Trinta e sete anos depois, essa jornada ainda não acabou. Na verdade, floresceu, trouxe frutos, vários projetos e, principalmente, um desejo autêntico nessa família, de retribuição: deixar um legado e levantar a bandeira da recuperação dos oceanos.

Com a finalidade de conscientizar a população mundial a respeito do lixo nos oceanos, especialmente os plásticos, toda a Família Schurmann – Vilfredo, Heloisa e os filhos Pierre, David e Wilhelm – voltou a se reunir a bordo do veleiro Kat para iniciar, no dia 29 de agosto deste ano, em Balneário Camboriú (Santa Catarina), a expedição mundial Voz dos Oceanos.

Com o apoio global do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), os velejadores e demais tripulantes da embarcação envolvidos nessa missão, de dois anos de duração, passarão por 60 destinos nacionais e internacionais, entre Brasil e Nova Zelândia, por meio de empreendedorismo, ciência e educação.

A iniciativa – que também conta com a Plastic Soup Foundation entre seus apoiadores internacionais – tem o intuito de testemunhar e registrar a poluição nos mares e navegar em busca de soluções inovadoras para combater esse problema. O objetivo final do projeto do Brasil para o mundo é conscientizar e engajar as pessoas ao redor do planeta para a necessidade de ações urgentes para a preservação das águas.

Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável

Ao realizar três voltas ao mundo nos últimos 37 anos, a família constatou de perto que os oceanos sofrem mudanças severas, já que estão cada vez mais poluídos. “Tudo isso impacta não apenas a vida marinha, mas atinge as populações de modo geral. O tema é tão urgente que a ONU definiu o período de 2021 a 2030 como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável. Acreditamos que por meio de uma grande corrente mundial do bem conseguiremos mudar juntos o cenário”, ressalta Vilfredo Schurmann. “É muito triste saber que tantos animais morrem diariamente ao ingerir plástico, incluindo tartarugas, baleias e aves marinhas.

Afinal de contas, cerca de oito milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos todos os anos. E, se não apostarmos em medidas de contenção, a situação ficará ainda mais grave, podendo triplicar esse volume até 2040. Precisamos mudar de atitude o mais rápido possível”, aponta Heloisa Schurmann, que ao lado da família é defensora da campanha Mares Limpos, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Parcerias formam pilares de atuação da Família Schurmann

Na prática, a tripulação Voz dos Oceanos aposta em três pilares de atuação para alcançar uma transformação efetiva. O primeiro deles, com vertente empreendedora, atua em conjunto com a aceleradora SPIN, focada em encontrar soluções ambientais para indústrias. A ideia é fomentar empreendedores e startups que tenham como proposta encontrar soluções para diminuir ou eliminar o uso do plástico no âmbito industrial. O segundo pilar, científico, será desenvolvido em parceria com um dos mais renomados cientistas do Brasil.

A meta é investigar os diferentes níveis de impacto que os oceanos estão sofrendo, investigando e analisando as águas por onde a expedição passar. Por último, o pilar educacional – uma parceria Voz dos Oceanos, Instituto IRAPA e Instituto Supereco – deverá realizar jornadas educativas, que incluem criação de materiais educativos e gamificação; oficinas de formação com estudos sobre oceanos, resíduos e sustentabilidade, e proposta de inclusão transversal e transdisciplinar da temática no currículo escolar.

“A meta é investigar os diferentes níveis de impacto que os oceanos estão sofrendo.”

Navegação e rota da Família Schurmann

Com uma tripulação de oito membros, a bordo do veleiro Kat, a Voz dos Oceanos passará por 60 locais estratégicos no planeta, incluindo pontos dos mares onde os mais variados itens de plástico se acumulam, vindos de diferentes partes do mundo por meio das correntes marítimas.

A etapa brasileira iniciou em Balneário Camboriú, Santa Catarina, passando por 11 destinos: Santos/SP, Ilhabela/SP, Ubatuba/SP, Paraty/RJ, Rio de Janeiro/RJ, Búzios/RJ, Vitória/ES, Abrolhos/BA, Salvador/BA, Recife/PE e Fernando de Noronha/PE, entre setembro e novembro deste ano. Na sequência, a expedição se dirigirá para o Caribe, Costa Atlântica dos Estados Unidos, arquipélago das Bermudas, voltando para o Caribe, México, cruzando o canal do Panamá, navegando até Galápagos, seguindo pelo Oceano Pacífico Sul até a Polinésia terminando na Nova Zelândia.

Nesta jornada, a Família Schurmann envolverá cientistas, educadores, ambientalistas, empreendedores, executivos de grandes empresas, influenciadores, formadores de opinião, ONGs, gestores públicos e sociedade civil com propostas para reverter o cenário de destruição dos mares e envolvendo ações de empreendedorismo e educação. “Voz dos Oceanos vai além da nossa família. Esse é um movimento coletivo em prol dos nossos oceanos, nosso planeta e nossa vida. Todos podem ser essa voz. E assim como os oceanos, nosso movimento também não tem fronteiras. É uma iniciativa do Brasil para o mundo”, destaca David Schurmann.

“A Família Schurmann foi, desde o início, uma parceira fundamental da campanha Mares Limpos. Além de testemunhar e registrar, em primeira mão, a condição dos ecossistemas marinhos e costeiros, a expedição Voz dos Oceanos é também uma grande oportunidade para mapearmos soluções que já estão em curso”, afirma a representante adjunta do Programa das Nações Unidos para o Meio Ambiente, Regina Cavini.

“Em todo o mundo, 63 países já se comprometeram com a Mares Limpos, o que representa 60% da área litorânea do planeta, e estão revendo suas legislações para banir plásticos descartáveis. Mais de mil organizações se uniram por uma economia circular para o plástico. Juntos podemos reverter essa maré”, complementa.

Além do apoio global do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da internacional Plastic Soup Foundation, a expedição tem como primeiros patrocinadores as marcas Kaiak (Natura), Corona (Ambev), Faber Castell e Sabesp. “Mais que um projeto de marketing, nossa Voz dos Oceanos é uma iniciativa ESG (Environmental, Social and Governance) para nossas parceiras”, diz David Schurmann.

Vale destacar que, além de todas as inovações e soluções sustentáveis presentes no veleiro Kat, Voz dos Oceanos adota de medidas capazes de neutralizar a emissão de carbono gerada tanto nos preparativos como na expedição, não se restringindo apenas aos índices da embarcação, mas também do escritório em São Paulo. Em parceria com a StarBoard, já estão sendo calculadas as emissões geradas para serem neutralizadas com o plantio de espécies típicas de manguezais que integram o ecossistema costeiro.

A iniciativa tem o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Familia Schurmann

Práticas sustentáveis da Família Schurmann

Batizado em homenagem à filha do casal, que faleceu em 2013, o veleiro Kat possui seis cabines, duas salas, uma cozinha e três banheiros. Entre os diferenciais da embarcação está a quilha retrátil hidráulica e todas as soluções sustentáveis. O veleiro faz uso de energia limpa (eólica, hídrica e solar) e conta ainda com geradores de baixo consumo e sistema de tratamento de esgoto. Para a Voz dos Oceanos foram efetuadas algumas melhorias, entre elas, ampliação da capacidade de geração de energia limpa de 75% para 100%, adoção de baterias de Lithium, mudanças no tratamento de águas com ultravioleta na fase final. Além disso, todo o lixo produzido é devidamente tratado. O barco possui uma composteira para tratar o lixo orgânico e um compactador para armazenar lixo reciclável.

Lixo plástico no mundo

Mais de 8 milhões de toneladas de plástico acabam nos oceanos todos os anos. O custo ambiental atinge US$ 8 bilhões anualmente. Se nada for feito, esse volume pode chegar a 20 milhões de toneladas por ano até 2040.

Em 2018, a produção mundial foi de 280 milhões de toneladas de material plástico. Um terço dessa produção são de itens de uso único, como sacolas, canudos ou copos.

Segundo o Banco Mundial, o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia.

O Brasil recicla menos de 2% do lixo plástico coletado. Esse é um dos menores índices da pesquisa e bem abaixo da média global de reciclagem plástica, sendo de 9%.

O custo estimado do lixo marinho varia de 259 € a 695 € milhões, principalmente para o setor do turismo e da pesca.

A reciclagem de 1 milhão de toneladas de plástico equivale a retirar 1 milhão de carros das estradas (CO2).

Qual foi a inspiração para o início do projeto de dar a volta ao mundo em um veleiro?

Heloisa Schurmann: Apesar de termos nascido e crescido em cidades de praia (eu, Heloisa, sou carioca da gema, e Vilfredo catarinense de Florianópolis), nunca tínhamos colocado os pés numa embarcação até 1974. Após alguns meses do nascimento de David, nosso segundo filho, minha mãe nos deu uma viagem ao Caribe de presente, ficando com os dois netos (além do David, o Pierre, filho mais velho). Lá, vimos um anúncio de passeios à vela. Compramos nossos tickets e, no dia seguinte, fomos os primeiros a chegar no local. Embarcamos e, ao desligar o motor, aquele movimento da embarcação sendo conduzida pelos ventos nos conquistou. Foi paixão à primeira vista! Ali mesmo, fizemos uma promessa: voltaríamos um dia, mas em nosso próprio barco. E marcamos uma data para isso: quando David completasse 10 anos, partiríamos de Florianópolis em nosso veleiro. Depois de 10 anos de planejamento e preparação, em abril de 1984, nós zarpamos com nossos filhos: Pierre (na época com 15 anos), David (10 anos) e Wilhelm (7 anos). Passamos 10 anos no mar e retornamos ao país como a primeira família brasileira a dar a volta ao mundo a bordo de um veleiro.

Depois de 3 expedições (e certamente, muitas histórias para contar), o que é mais importante planejar, antes de uma viagem como essa?

Vilfredo Schurmann: Cada detalhe é importante: planejamento financeiro, rota, estrutura do veleiro, tripulação e itens necessários a bordo e até uma equipe em terra para dar suporte em jornadas tão longas como as nossas.

Como foi a escolha da rota para a expedição Voz dos Oceanos?

Vilfredo Schurmann: Há muitos anos, a degradação dos nossos oceanos, que são o pulmão do mundo, e onde reside a maior biodiversidade do planeta, vem nos incomodando. Em 1998, durante nossa segunda volta ao mundo, o primeiro alerta aconteceu em Henderson Island, isolada e invadida por lixo. Em 2015, durante a terceira volta ao mundo, mais uma experiência assustadora: a também deserta West Fayu tinha muito lixo, principalmente plástico. Para nós foi a gota d ‘água. Quando retornamos em dezembro de 2016, já tínhamos decidido que nossa próxima expedição serviria a um propósito: ajudar a salvar nossos mares e o planeta. Assim, demos início, em 2017, à Voz dos Oceanos, incluindo o planejamento da rota da expedição. Sendo uma iniciativa do Brasil para o mundo, decidimos começar pela nossa costa brasileira.

Por que é tão importante para vocês essa expedição?

Heloisa Schurmann: Em 37 anos de aventuras, nossa conexão com o Planeta Água passou a ser visceral, permitindo compreender os sinais da natureza. E, há um tempinho, escutamos um sussurro agonizante se convertendo em grito sufocante. Os oceanos estão sem fôlego e pedem socorro. E esse não é um problema restrito ao ambiente marinho, afinal, mais de 50% do oxigênio do mundo é produzido pelas algas marinhas. Ou seja, nossos oceanos são o pulmão do mundo! E, se ele está sufocado, o quão comprometido está o ar do nosso Planeta Terra? É o ar do planeta e a vida humana que estão em jogo. O plástico vira micro e nano plástico. Partículas tão pequenas que podem parecer invisíveis, mas estão presentes e “atuantes” no meio ambiente e no nosso corpo. Para começar, elas cobrem nossas algas, impedindo-as de exercerem seu papel de produtoras de oxigênio. Ou seja, o pulmão do mundo está com seu funcionamento comprometido. E se ainda assim esse parece ser um problema muito distante de nós, humanos, lembremos da cadeia alimentar: os peixes se alimentando de micro plásticos e, então, sendo o nosso próprio alimento. Consequentemente, nós também estamos consumindo plástico. Sem chance de isso ser saudável, certo?

A ameaça que está no mar também está presente no nosso cotidiano urbano, mesmo que estejamos distantes da costa e dos oceanos. Ainda assim, somos otimistas! Há 37 anos, nos aventuramos por águas tranquilas, mas também agitadas e tempestuosas. Faz parte do desafio de viver a bordo. Defensores da campanha Mares Limpos do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e líderes da Voz dos Oceanos, acreditamos que, juntos, possamos reverter esse cenário. Temos tantas histórias e lembranças maravilhosas de décadas no mar que queremos deixar um legado.

Vocês gostariam de deixar um recado para os brasileiros ao redor do mundo, que estão lendo sobre vocês nesse momento?

Vilfredo Schurmann: Embarque nesta missão com a gente, acompanhando nossa expedição nas redes sociais, na mídia etc. Faça parte dessa grande onda em prol do Planeta Água e de todos nós.

“SEJA VOCÊ TAMBÉM A VOZ DOS OCEANOS! “

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