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Artistas que se redescobriram no exterior – Zana Bonafe

by Brazil Expat
Zana Bonafe

Uma entrevista com Zana Bonafe, Pintora e autora do livro “Maid in Dubai & Coletânea UF”

Nesta edição, a Brazil Away convidou a artista Zana Bonafe para falar da sua trajetória desde o Brasil até Dubai, onde hoje é o seu lar. Vamos conhecer os desafios, adaptações, e principalmente as descobertas que ela teve, imersa em novas culturas, e como isso ajudou a aprimorar sua arte.

Zana Bonafe

Fotografia: arquivo pessoal

Sabia que havia uma chama de artista em mim, mas não ousava libertá-la.

O início de tudo!

Venho de uma família de exatas: mãe e pai matemáticos, irmãos engenheiros. Cresci com a ciência e números, e acabei indo estudar engenharia química na USP. Entre a aula de cálculo avançado e a de química orgânica eu escrevia poesia, escondida e com vergonha. Sabia que havia uma chama de artista em mim, mas não ousava libertá-la.

Hoje, vivo em Dubai e sou artista período integral. Escrevo e pinto. Minha arte evoluiu e encontrei minha autenticidade e originalidade pintando em árabe estilo graffiti. Uma mistura entre caligrafia e pintura, uma explosão de palavras em estilo contemporâneo.

Aos quinze anos, fiz intercâmbio nos Estados Unidos e sabia desde então que queria me aventurar pelo mundo. Trabalhei na Venezuela, Peru e Alemanha. Em 2000, saí do Brasil de vez e fui morar na Inglaterra e depois na Suíça. Em 2009, me mudei para Dubai, onde hoje considero meu lar.

Casei-me com um egípcio e minha filha nasceu nos Emirados Árabes Unidos. Uma família multicultural.

Aos quinze anos fiz intercâmbio nos Estados Unidos e sabia desde então que queria me aventurar pelo mundo.

Quais foram os desafios que você enfrentou quando foi morar fora do Brasil?

Na adolescência foi a língua. Ninguém falava português onde eu morava e aprendi o inglês por imersão. Lembro-me, até hoje, quando sonhei pela primeira vez em inglês: uma conquista! Meu maior desafio foi na Suíça. Quando me mudei para lá, fui com a mentalidade de que ia ficar no máximo dois anos. Então não fiz grandes esforços para me integrar na sociedade e fazer amigos duradouros.

Não comecei nada novo que pudesse levar mais do que um ano (um curso, a compra de uma casa, aprender a língua). É como um carma: o que eu investi naquele lugar, a sociedade de lá me deu de volta. Foi uma experiência infeliz.

Quando me mudei para Dubai, apesar de poder ter sido só por alguns poucos anos, fui com a mentalidade de que seria para sempre. Fiz de tudo para me integrar na sociedade. Queria criar raízes. Minha adaptação foi muito mais fácil e a sensação de lar hoje existe. Estou há 13 anos, sem planos de me mudar.

De que forma você se redescobriu no exterior?

Na Inglaterra, eu tive uma carreira bem-sucedida como diretora de marketing e descobri nos canais da BBC um programa dos anos 80 com o pintor Bob Ross. Ele pintava um quadro incrível em 30 minutos. Aquilo me fascinou. Saí, comprei uma tela, pincéis e tinta a óleo e comecei a pintar.

Tentei pintar paisagens, mas, apesar de conseguir, a inspiração não estava ali. Interessei-me por retratos, principalmente de pessoas que carregavam o peso de sua história em suas faces. Brincava com a tela, aprendendo por tentativa e erro.

Certa vez, vi um senhor sentado na estação ferroviária de Alexandria no Egito, sua cara enrugada, com cicatrizes, olhar tristonho e distante. Foi tão marcante que quando cheguei em casa das férias pintei-o em uma única sentada. Aquilo mexeu comigo, como se minha veia de artista tivesse sido finalmente desbloqueada.

Estar em um país diferente me liberou dos preconceitos que eu mesma me impus. Londres com sua alma artística me ajudou muito. Adorava andar pelas ruas e ver malabaristas, pintores, dançarinos. Todos os artistas de rua decorando as calçadas nos dias de verão. Ainda em Londres, comecei a estudar árabe com um professor iraquiano que focava em conversação, que prometeu que eu estaria falando árabe em seis meses.

Percebi que estava tendo que criar símbolos e letras novas para representar sons que não temos no português. Então pensei, por que não aprender a escrita também? Assim poderia usar o caractere correto. Foi aí que me apaixonei pela língua e a união da escrita e da pintura começou. Minha filha diz que o alfabeto árabe é cheio de minhoquinhas e pontos. Esses traços lineares dão à escrita uma flexibilidade incrível.

Quando me mudei para Dubai resolvi impulsionar a carreira de artista. Tirei um ano sabático, reinventei-me como professora universitária, fiz um curso de caligrafia árabe e comecei a pintar com nanquim em papel. As amigas gostaram e as encomendas aumentaram. Ficava lindo, tinta preta e detalhes em dourado.

Fiz de tudo um pouco, até logotipo de empresa e escrita em camiseta. Estar num país onde o árabe era apreciado ajudava. Mas, o mais importante, foi estar de mente aberta em uma cidade com oportunidades. Dubai estava crescendo exponencialmente e havia mercado para quase tudo. Resolvi pedir demissão oficialmente e me transformei em artista.

Zana Bonafe, como sua arte representa a nova cultura em que vive?

Imagine se pudéssemos traduzir a essência de uma música numa arte visual. É possível transpor notas musicais e poesia para uma tela? É isso que eu faço, capturo músicas brasileiras nos meus quadros.

A Coleção Fusion 2021 é o casamento das minhas raízes brasileiras com o encantamento do mundo do Oriente Médio. Coloridas, imponentes e grandes, as telas têm o gingado do samba com a sofisticação de metais preciosos. A maioria tem o brilho da prata ou do ouro, que refletem a luz e dão movimento às pinturas.

As palavras são de músicas brasileiras de todos os gêneros, de Tiago Iorc a Tim Maia, de Geraldo Azevedo a Ivete Sangalo. As músicas selecionadas têm que ter boa melodia e letras poéticas, com conteúdo. Eu me adaptei à nova cultura e minha arte se transformou também.

Deixe uma mensagem para quem gostaria de conhecer mais sobre você e seu trabalho!

Além das coleções tradicionais, também faço telas por encomenda. Um poema para um recém-nascido, uma música especial que marcou um relacionamento, tudo se transforma em arte para clientes que querem algo personalizado. Para ver um pouco do meu trabalho, tanto como pintora ou escritora, veja minha página no Instagram. Para encomendas ou dúvidas, me envie um e-mail: zanabonafe@gmail.com.

Quer conhecer mais sobre o trabalho de Zana Bonafe, visite o Instagram: @zanabonafe

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