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Finanças: Onde investir morando no exterior?

by Brazil Expat

Mala desfeita, você deixou o Brasil e fincou o pé num país estrangeiro.

Família adaptada (às vezes, aos trancos e barrancos, é verdade) e finalmente a vida financeira se organiza. Tudo em ordem na nova casa! Só tem um detalhe: você não sabe bem onde investir o seu dinheiro e na dúvida, acaba não fazendo nada com ele. O tempo passa e passam, também, boas oportunidades.

Investir não é uma simples opção nem no Brasil, nem em nenhum outro lugar do mundo. É uma obrigação num mundo que muda rápido e com riscos crescentes!

Meu desafio hoje é trazer, resumidamente, as modalidades de investimentos mais adequadas para quem mora no exterior.

Claro que a situação é bem diferente se a sua aventura no exterior tiver data para acabar ou se sua intenção for de mudar de CEP indefinidamente. Isso porque investimos para o futuro e é fundamental saber onde será esse futuro (ainda que a situação possa sempre mudar). Além disso, a conversão de moedas gera um custo alto e há sempre um risco cambial a ser considerado.

Afinal, se, por exemplo, morando definitivamente nos EUA você tenha decidido, no início de 2020, investir todo o seu dinheiro no Brasil em busca de taxas de juros mais altas, teria visto seus investimentos perderem ¼ do valor em dólar, apenas com a desvalorização do real no período.

De qualquer forma, não há uma única fórmula mágica e tudo depende dos seus objetivos em relação aos investimentos. Tanto no Brasil quanto fora, você precisará investir por pelo menos 4 razões diferentes, com estratégias diferentes e comentarei, brevemente, sobre cada uma delas aqui:

1. Despesas não recorrentes
2. Reserva de Segurança
3. Aposentadoria
4. Aumentar seu patrimônio

investimentos para 2022

1. Despesas não recorrentes

Para quem estava acostumado a organizar a vida financeira através de boletos mensais no Brasil, pode se enrolar completamente no exterior. Dependendo do país onde viva atualmente, os impostos podem não ser descontados na fonte e pagos de uma só vez no ano seguinte, a escola do seu filho pode ser um pagamento trimestral e não há mais parcelamento de compras em 12x sem juros.

Como se organizar?

Você precisa se preparar, todo mês, para enfrentar esses gastos, quando chegam. A primeira coisa que você deve fazer todo mês é separar uma parte da sua renda, assim que o salário bater na sua conta, e transferir esse montante para um investimento dedicado, deixando esse dinheiro bem longe da sua conta-corrente. Se a escola do seu filho custar $12 mil ao ano, separe $1 mil a cada mês, por exemplo. Assim, você deve fazer com cada uma das despesas não-mensais.

Quando, finalmente, tiver que pagar esta despesa, saque do seu investimento o montante correspondente. Ele se aplica para seus projetos de médio prazo, como uma viagem de férias com a família, por exemplo.

Onde aplicar esse dinheiro?

Neste caso, acredito que o melhor é começar pelo simples: invista no equivalente à velha e boa (bem, talvez não tão boa assim) caderneta de poupança brasileira. Mais importante do que a rentabilidade aqui é a organização financeira. O foco é separar esse dinheiro da conta-corrente que você usa no dia-a-dia.

Aplicar no Brasil ou no exterior?

O melhor é aplicar na moeda onde a despesa ocorrerá. Vivendo no exterior, eu imagino que o melhor seja aplicar onde mora, mesmo que os juros sejam menores, pois assim você não está exposto ao risco cambial. Se tiver um IPTU a pagar no Brasil ou qualquer outro tipo de despesa não recorrente desse tipo, deixe esse dinheiro na Poupança no Brasil.

 

2. Reserva de Segurança

Há alguns anos, era raro ouvir falar disso, mas hoje é quase uma unanimidade entre os planejadores financeiros: você vai precisar ter uma reserva financeira para qualquer imprevisto, como, por exemplo, perder seu emprego ou enfrentar uma dificuldade no seu negócio.

O montante que você precisa ter variará de acordo com seu tipo de renda e o país onde está vivendo. Para quem tem um contrato de trabalho definitivo em um país europeu, uma reserva equivalente a 3 meses de gastos médios mensais pode ser o suficiente. Isto porque na Europa, geralmente, a demissão se apresenta como um risco menor (mais burocrático para a empresa demitir) e com um auxílio social maior, por parte do Estado.

Em países onde a demissão é um risco maior, como, por exemplo, grande parte dos Estados norte-americanos, ou para quem a renda tem uma variabilidade maior, como autônomos e empresários, um mínimo de 6 meses poderia ser mais adequado.

Onde aplicar esse dinheiro?

Novamente, aqui o foco é na liquidez e na proteção em reduzir o risco e não necessariamente em buscar alta rentabilidade.

Aplicar no Brasil ou no exterior?

Depende. Em geral, o melhor é que essa reserva seja 100% na moeda do país onde você vive, atualmente, mas se sua intenção é voltar ao Brasil e você já tem algum investimento por lá, você pode deixar uma parte destes investimentos no Brasil, de modo a evitar os altos custos de conversão da moeda (nesse caso você perderia com a conversão 2 vezes: uma mudança para o exterior e depois na volta ao Brasil).

Ainda, acho prudente que, pelo menos, metade da sua reserva de segurança esteja na moeda do país estrangeiro em que vive atualmente. Se sua intenção é viver para sempre no exterior, neste caso, vá sem piedade e transfira tudo! Afinal, se a reserva de segurança, como o nome já diz, preza justamente pela segurança, qual sentido faria em submetê-la ao risco cambial?

3. Aposentadoria

Independente de onde você vive atualmente, uma coisa é certa: você não poderá contar exclusivamente com a aposentadoria do Estado. Não é só no Brasil. O aumento da expectativa de vida em todos os cantos do mundo e a constante redução da taxa de natalidade, desde os anos 60, está fazendo com que menos gente no mercado de trabalho tenha que sustentar uma população idosa cada vez maior.

É um fenômeno matemático-atuarial global e está levando vários países a reverem seus regimes públicos de aposentadoria.

Além disso, muitos países têm acordos previdenciários com o Brasil, onde contam como tempo de contribuição proporcional o tempo de trabalho no Brasil e no Exterior.

Caso este não seja o caso de onde pretende se aposentar, a sua aposentadoria no futuro pode depender exclusivamente dos seus investimentos. Informe-se a respeito e prepare-se em todo caso.

Onde aplicar esse dinheiro?

Aqui, a liquidez já não é mais tão necessária. Vise em investimentos de longo prazo, esteja aberto para investir um percentual em renda variável como ações.

Aplicar no Brasil ou no exterior?

Aqui, podemos dividir novamente os expatriados em dois grupos:

a) Os que pretendem se aposentar no Brasil e

b) Os que contam viver na aposentadoria no exterior.

Para o primeiro grupo, o melhor é investir 100% desse dinheiro no Brasil. Existem boas opções como planos privados de aposentadoria com vantagens fiscais como o VGBL e o PGBL, além da contribuição voluntária ao INSS, que pode fazer sentido, se decidir pelo pagamento mínimo.

O meu favorito, no entanto, são os títulos do Tesouro de longo prazo, comprados facilmente através do site do Tesouro Direto, os chamados Tesouro IPCA+ que rendem uma taxa de juros fixa acrescida do reajuste pela inflação. São títulos bons para o longo prazo e com baixo risco considerando uma renda futura em reais.

Se sua intenção é se aposentar no exterior, aqui dependerá do seu país, mas geralmente na maior parte dos países que conheço, costuma haver planos equivalentes ao nosso VGBL/PGBL com isenções fiscais para quem aplica neles (como também um período mínimo em que você não tem acesso a este dinheiro).

Se sua empresa oferecer, ainda por cima, algum incentivo para investir nesses planos, eu nem pensaria duas vezes. Nos EUA, por exemplo, as opções mais comuns são o Plano 401k, que muitas empresas oferecem. Investir em TIPS (equivalente ao Tesouro IPCA+ brasileiro) através de um Roth IRA (contas de aposentadoria privada com benefício fiscal) pode ser uma alternativa, caso sua empresa não ofereça o 401k ou equivalente.

Pesquise no seu país qual o melhor investimento para este dinheiro e ao descobrir as diferentes modalidades, é certo que se arrependerá de não ter começado a investir antes tamanho os benefícios!

4. Aumentar seu patrimônio

Visto que você tenha se organizado para poupar religiosamente para despesas não recorrentes, que tenha formado sua Reserva de Segurança e esteja contribuindo, mensalmente, para a sua aposentadoria Complementar, chegou a hora mais divertida dos investimentos: hora de focar em aumentar seu patrimônio.

Onde aplicar esse dinheiro?

Tudo é possível aqui, visando os maiores retornos possíveis: ações, títulos públicos, imóveis, fundos de investimentos diversos e por aí vai.

Eu, particularmente, sou adepto de uma estratégia bem simples, a alocação de ativos, que nada mais é do que definir os percentuais fixos para cada classe de ativos. Por exemplo: posso decidir ter 1/3 desses investimentos em ações, 1/3 em imóveis ou fundos imobiliários e o 1/3 restante em títulos de dívida.

Aplicar no Brasil ou no exterior?

Acredito que quanto maior a diversificação, melhor. Ou seja, sinta-se livre para investir no Brasil e no exterior. É possível investir em ações de uma maneira bem simples e disponível na maior parte dos países, através de fundos de ações negociados em bolsa: os chamados ETF (Exchange Traded Funds).

Existem fundos globais investindo em grandes empresas do mundo todo.

Investir em ETF, que replicam índices americanos, como o S&P500 e o Russel 3000, também garantem uma boa diversificação, porque mesmo que as empresas que compõem estes índices estejam listadas em bolsas americanas, a maior parte delas tem operações globais e não dependem exclusivamente do desempenho da economia dos EUA e nem apenas do dólar.

Investir uma parte da sua carteira em imóveis também pode fazer sentido. Em muitos países, a taxa de juros no financiamento imobiliário é tão baixa que chega a ser menor que o reajuste anual dos aluguéis (às vezes, a parcela do financiamento fica bem próxima ao valor do aluguel). Se sua intenção for voltar ao Brasil, o real desvalorizado pode ser de grande ajuda no projeto da compra de imóveis.

O assunto de investimentos no exterior é extenso e pode se tornar complexo. Minha intenção aqui foi simplificá-lo ao máximo e estimular os brasileiros fora do país a não deixarem de investir.

Os riscos são causados pelo nível de incertezas. Como costumo dizer, investir pode até, algumas vezes, ser visto como algo arriscado. Por outro lado, não investir não tem risco nenhum: é a quase certeza de um futuro financeiro complicado.

A todos, um grande abraço!

Riko é Economista pela UFRJ, também formado em Relações Internacionais e MBA em Finanças pela Bordeaux University School of Management, na França, é um legítimo Brazil Away, tendo vivido em 5 dos continentes. É autor dos livros “Aprenda a investir na Bolsa de Valores” e “E se você não morrer amanhã?” sobre planejamento financeiro pessoal. Este último foi publicado pela editora europeia Chiado Books, e, em seu lançamento, foi o livro brasileiro sobre finanças pessoais mais vendido da categoria, na Amazon Brasil. Foi, posteriormente, traduzido para o inglês e o francês. Riko também é o autor do blog henriquecer.com, com publicações semanais desde 2013, e do Podcast do Riko Assumpção, disponível no Spotify, entre outras plataformas.

Quer conhecer mais sobre Riko Assumpção? Visite: @11riko

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