“As rotinas são fundamentais e precisam ser claras e consistentes.”
Segue algumas dicas de como implementar um quadro de rotinas e a importância delas.
– Rotina Alimentar
Uma das principais questões nos meus atendimentos é a alimentação. Como fazer uma introdução alimentar saudável e nutritiva para as crianças e como não tornar o momento das refeições um campo de batalha. Percebo que as horas das refeições podem ser verdadeiros jogos de cabo de guerra, um momento de intensa disputa e irritação entre pais e filhos. O mais impressionante para mim é que as mesmas crianças que são tão difíceis em casa, de acordo com os relatos dos pais, se sentam e se alimentam de forma tranquila e com autonomia na escola e na casa dos amigos.
Organizar rotinas alimentares com crianças pode ser desafiador, especialmente se elas são seletivas com a comida, o que é muito comum em crianças pequenas que estão descobrindo novos alimentos. Sempre achei importantes os horários das refeições porque a forma que conduzimos essa rotina na infância será o reflexo de como eles irão se relacionar com a comida quando adultos.
É normal que as crianças sejam exigentes ao comer – ou seja, não gostem do sabor, forma, cor ou textura de determinados alimentos. Também é normal que as crianças gostem de algo um dia, mas não gostem no dia seguinte, recusem novos alimentos e comam mais ou menos de um dia para o outro. Isso tudo acontece porque a alimentação faz parte do desenvolvimento das crianças, é uma maneira de explorar seu ambiente e afirmar sua independência. É importante também saber que o apetite das crianças aumenta e diminui dependendo do quanto elas estão crescendo e quão ativas elas são.
– Se a criança é muito seletiva, converso com os pais e digo para começar devagar:
Por exemplo, inicie pedindo ao seu filho para lamber um pedaço de comida e prossiga até provar um pedaço, elogie seu filho por essas pequenas tentativas. Nunca force seu filho a experimentar um novo alimento e tente não se preocupar com bebidas derramadas ou comida no chão, pois isso faz parte do processo.
É importante saber que o apetite das crianças é afetado por seus ciclos de crescimento e até os bebês têm apetites variáveis. De 1 a 6 anos, é comum que as crianças estejam com muita fome em um dia e não queiram comer nada no dia seguinte e isso gera um enorme pânico nos pais, que muitas vezes substituem refeições saudáveis por mamadeiras para ter certeza de que os filhos estão “alimentados”, o que cria um hábito difícil de ser eliminado.
– Durante a refeição:
Se o seu filho está preocupado e reclamando sobre a comida, ignore-o o máximo que puder. Dar muita atenção à alimentação, às vezes, pode incentivar as crianças a continuarem se comportando dessa maneira. Uma boa opção para crianças que têm seletividade alimentar é oferecer alimentos saudáveis e divertidos – por exemplo, corte sanduíches em formatos interessantes, deixe seu filho ajudar a preparar uma salada ou bater ovos para uma omelete.
– Inclua as crianças no processo de escolha e preparação das refeições:
Deixe-as escolherem frutas e legumes no supermercado, permita que ajudem a preparar as refeições e incentivem a experimentar novos alimentos. Isso pode ajudar a aumentar o interesse das crianças pelos alimentos e tornar a hora das refeições mais tranquila. As aulas de culinária na escola são sempre uma das que tem mais engajamento, lembre-se que elas são curiosas e para elas tudo é novidade.
– Desligue a TV, sente-se à mesa com as crianças e incentive a conversa.
Isso pode ajudar a tornar a hora das refeições mais agradável e envolvente, estimule a autonomia, mesmo que se reflita em comida no chão. Sempre gostei de perguntar para as crianças duas coisas boas que aconteceram no dia e eu começava com um exemplo meu com o objetivo de iniciar as refeições de forma leve.
– Deixe claro que existe um limite de tempo (de cerca de 25 minutos) para crianças – acima de dois anos – terminarem suas refeições.
Qualquer coisa que dure muito tempo não é uma refeição agradável nem produtiva. Se o seu filho não comeu toda a comida neste período, retire-a e não ofereça mais até a próxima refeição, seja consistente e não desanime.
– Evite fazer das sobremesas um prêmio ou incentivo para as crianças comerem suas refeições.
Isso pode fazer com que as crianças vejam os alimentos saudáveis como desagradáveis e os alimentos menos saudáveis como recompensa. Procure limitar a quantidade de lanches que as crianças comem durante o dia, especialmente aqueles que são ricos em açúcar e gordura. Uma boa dica é deixar frutas e vegetais já cortados na geladeira e no alcance delas.
– Às vezes, as crianças estão muito distraídas para se sentar à mesa da família para uma refeição, e se isso acontece com seu filho, tente ter um tempo de silêncio para que ele possa se acalmar antes de comer.
Até o ritual de lavar as mãos pode ajudar, ou ter uma canção especial para cantar antes do jantar.
Por fim, lembre-se que todo esse processo é novo para seu filho e que a vida é excitante demais para as crianças. Às vezes, elas estão muito ocupadas explorando o mundo ao seu redor para passar o tempo comendo. As crianças aprendem testando os limites do comportamento, e podem ser muito obstinadas quando se trata de tomar decisões sobre comida (comer ou não comer e o que comer). Tudo isso faz parte do seu desenvolvimento social, intelectual e emocional.
As crianças podem levar tempo para experimentar novos alimentos e desenvolver hábitos alimentares saudáveis. Seja paciente e persistente ao oferecer alimentos novos, e tente tornar a hora das refeições um momento de prazer e alegria.
Quadro de rotinas
Para ajudar nesse processo, uma opção que indico sempre é criar, em conjunto com seu filho – se ele tem mais de 03 anos – um quadro simples de rotinas. Dessa forma ele também se sente parte do processo e responsável por ele. O que podemos incluir nesse quadro?
- Horário de acordar e dormir;
- Horário das refeições;
- Tarefas como: escovar os dentes, tomar banho, pentear o cabelo e lavar as mãos;
- Tarefas como: arrumar a cama, varrer, lavar a louça, etc.;
- Horário de estudos: reserve um tempo para estudar, fazer a lição de casa, ler ou praticar habilidades;
- Horário para atividades físicas: caminhar, correr, nadar ou fazer yoga, para manter o corpo saudável e em forma;
- Horário livre: reserve tempo para hobbies, atividades de lazer, passatempos e tempo com amigos e familiares;
- Tempo de tela: defina limites para o tempo de tela, incluindo televisão, videogames e dispositivos eletrônicos;
- Tarefas adicionais: inclua outras tarefas que precisam ser realizadas diariamente, como alimentar animais de estimação, regar plantas, entre outros.
Lembre-se de que o quadro de rotinas deve ser personalizado de acordo com as necessidades e hábitos de cada família. É importante manter a flexibilidade para ajustar as tarefas de acordo com as mudanças na rotina diária e de acordo com o desenvolvimento da criança.
Educadora Parental: Isabella Martins
Educadora com Pós Graduação em Educação Infantil (UK) e tem experiência em escolas internacionais. Atualmente morando e trabalhando em Singapura, é mãe de três adolescentes e apaixonada por educação.