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Saúde mental no esporte: aliada ou adversária?

by Brazil Expat
saúde mental e o esporte

Nossa conversa é com Mariana Corrêa, psicóloga do esporte. Doutoranda, atua no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa de São Paulo, na preparação psicológica de atletas de categorias de base e alto rendimento. Também já atuou como psicóloga nas seleções brasileiras de basquete feminino, judô e rugby.

Por Deborah Palma – Ex-observadora nos Jogos Olímpicos de Londres, Rio, NFL, NBA, Roland Garros

Qual a importância e a atuação do psicólogo do esporte?

O principal objetivo é entender a influência dos fatores psicológicos no desempenho físico de um indivíduo e como a participação em esportes afeta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa. Sua função é ajudar a compreender melhor o esporte praticado pelo ser humano, descrevendo, analisando, avaliando e dirigindo estas atividades através de processos psicológicos. Nesse sentido, o psicólogo do esporte se torna fundamental no processo de busca do bem-estar do indivíduo que pratica o esporte, sendo este com objetivos competitivos ou não.

Há muita crítica sobre a competição na escola, contudo, são inegáveis os valores que o esporte traz. Como lidar com a competição?

O esporte é uma excelente ferramenta para desenvolver valores. Não sou contra a competição na escola, mas sim, como é feita, já que muitas vezes é valorizado apenas o ganhar, ficando os menos habilidosos de fora. O que tem que valer é o processo do aprendizado, sem pular etapas importantes do desenvolvimento. Acredito que a escola deva oferecer uma diversidade de atividades e oportunidades para todos, para que possam encontrar e desenvolver suas habilidades.

Quais os principais desafios diários?

A psicologia ganhou muito espaço, tanto que treinadores e atletas têm claro a importância da preparação psicológica e a procura tem crescido. Assim, o maior desafio é atender esta grande demanda.

Quais as situações mais comuns que chegam até você?

É o baixo desempenho, lidar com as emoções e o quanto elas interferem no rendimento durante os jogos, além dos conflitos em casa, dificuldade em lidar com as múltiplas tarefas (escola, curso, treino, jogos). E hoje, há um aumento significativo de atletas com ansiedade, depressão e outras patologias.

Como resolver a ansiedade e stress pré competição?

Na preparação psicológica, o atleta aprende a gerir essas emoções, por meio de técnicas como: identificação dos gatilhos, controle de pensamento, meditação, respiração, visualização, entre outras.

Até que ponto as redes sociais afetam os jovens atletas quanto à motivação e rendimento em seu esporte?

Às vezes, o atleta precisa lidar com situações nas redes sociais como cobrança, expectativas e haters. Isso pode influenciar o desempenho ou gerar uma pressão no atleta. Na preparação psicológica, tento auxiliar no entendimento e interpretação do que está ocorrendo e como lidar com essa situação.

O esporte de alto rendimento é seletivo. Como trabalhar um jovem que tinha um sonho que não conseguirá realizar?

Sempre buscamos entender as expectativas e a realidade, traçar metas e estratégias para atingir os objetivos. Quando o jovem percebe que não será possível atingir o que busca, trabalhamos novas metas, mostrando que ele pode ser feliz, fazendo outras coisas que gosta, inclusive no esporte, e que também pode ser bem-sucedido.

Muitos atletas têm uma mudança radical, saindo de uma vida simples para a fama. O que deve ter atenção?

É importante analisar como o atleta vai lidar com essa nova realidade, principalmente, em relação ao seu comportamento, com as relações familiares e de amigos e os valores nestas relações. Precisamos ainda nos atentar em como o atleta lida com a mídia e dinheiro, e o que isso proporciona para a vida dele, além de entender o caminho que percorreu para chegar aonde está.

É importante analisar como o atleta vai lidar com essa nova realidade, principalmente, em relação ao seu comportamento, com as relações familiares e de amigos e os valores nestas relações. Precisamos ainda nos atentar em como o atleta lida com a mídia e dinheiro, e o que isso proporciona para a vida dele, além de entender o caminho que percorreu para chegar aonde está.

Em situações como a de Simone Biles, quais são os gatilhos que trazem à tona esse processo?

Tudo isso vem à tona, quando o atleta percebe que a demanda está muito grande e não consegue lidar com isso, gerando estresse, pressão, que podem ser prejudiciais para a saúde mental. Para evitar, é importante que o atleta tenha acompanhamento psicológico e, neste processo, possa compartilhar seus desafios e a partir daí, ser instrumentado de ferramentas para gerir os desafios do ambiente esportivo e competitivo.

Até que ponto o torcedor hoje é responsável pelo desempenho do atleta?

Não vejo o torcedor como responsável pelo desempenho do atleta, vejo que a torcida pode favorecer ou não o desempenho, mas isso depende de como o atleta enxerga e lida com a torcida e o quanto tem de ferramentas para tratar com o que a torcida faz ou fala.

O que diria aos pais que começam a projetar a vida de seus filhos no esporte?

A participação dos pais na vida esportiva é fundamental, mas devem ter o cuidado para não projetar no filho aquilo que eles gostariam de ter sido, além de não gerar pressão, cobrança e altas expectativas. Deve-se valorizar o processo e não o resultado, incentivar a criança, ressaltar os pequenos ganhos, a participação, a determinação, a coragem etc.

 

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